Naquela estação, onde o tempo era o maior inimigo das pessoas que corriam para lá e para cá sem ao menos olhar para os lados, ela lia seu livro já surrado em mãos, um exemplar de Harry Potter e a ordem da Fênix - que já lerá mais do que qualquer outro em sua vida.
Ali no meio de tudo aquilo ela sabia que era só mais uma, e as pessoas a observavam como se ela fosse louca, com um ar tão serena e chorosa, lágrimas escorriam enquanto ela lia, sem dúvida era o livro mais triste para ela, na verdade aquele era o dia mais triste da vida dela, seu personagem favorito acabará de morrer, e a pessoa a qual prometeu lhe fazer feliz se foi, ela não pensará nisso desde o dia em que ele a deixou, tentou se distrair o máximo que pode, e... toda vez que seus pensamentos corriam para junto dele, ela tentava algo estúpido e idiota, tão típico dela, será esse um dos motivos pelo qual ele a deixou?
O trabalho continuava o mesmo, as pessoas na estação faziam a mesma coisa de sempre, todas fechadas em seus pensamentos e procurando soluções para seus inúmeros problemas, a vida dela continuava, sim continuava assim como a dele, afinal elas nunca pararam, seguiram juntas por um tempo e logo se separaram, mais somente agora lendo aquele livro que , estranhamente era o que a fazia colocar os pés no chão, pensar claramente, percebeu que nunca fora totalmente dele, e que se pensar direito ela que o havia deixado, perceberá o quanto era estúpido o jeito cretino que ele a tratava e como ela se submetia a ele, o fim era esperado, afinal, o que uma garota como ela fazia com um babaca como ele?
Ela ria de si mesma, porque será que sempre era assim?, Primeiro o garoto era o mais perfeito dos caras, depois vira o mais babaca. Ela pegou uma folha do seu caderno e começou a escrever :
“São Paulo,20 de Setembro de 2012,
Não sei como anda sua vida, se ao menos está bem, eu ando ótima, na verdade hoje estou me sentindo melhor do que nunca e devo isso a você.
Não sinta-se ofendido pelas minhas palavras, eu percebi que antes de virar essa página eu precisava falar aquilo que naquele dia não consegui, aquilo que ficou preso na garganta e que sem querer engoli, que não consegui digerir e que só hoje consegui vomitar. Minha vontade era de dizer isso olhando em seus olhos, mas quero evitar o máximo chegar perto de você, não por medo, que fique bem claro, mas tenho receio de que você veja a burrada que fez.
Sabe, eu não desejo seu mal, e nunca vou desejar, espero que essa garota que você está agora seja muito gostosa mesmo ( e burra o suficiente ), e que te faça feliz, assim como eu tentei, e tenho certeza que por um tempo eu o fiz, eu já apaguei seu número da minha agenda, mas ainda o seu de cor, pode parecer humilhante e muito constrangedor falar isso mas... hoje lendo meu livro habitual eu chorei por você, não lamento o nosso fim, só queria lhe agradecer por tudo o que você me fez, de alguma forma me tornou uma mulher, e sim, no começo eu achei que você era o homem da minha vida, é patético eu sei, mais naquela época era tão romântico, fazia tanto sentido, mas ficar sem você faz mais sentido ainda. Você não foi de todo um péssimo namorado, somente um grande e estúpido babaca, que por sorte conseguiu conquistar uma princesa e não soube tratá-la como tal, e olha que eu tentei te mostrar, quantas vezes te fez assistir Diário de uma princesa , mas não adiantou né? Mais fica a dica, se por sorte você conseguir outra princesa não a perca de vista, e eu vou seguir minha vida, com meu vestido rodado, meu coturno surrado e meu livro de sempre a procura do meu príncipe tatuado e de jaqueta de couro.
Ah, nesse momento em que te escrevo, estou na estação de trem, logo irei embarcar, sabe aquele sonho que eu tinha e que você sempre disse que era besteira? Bem, estou indo realizá-lo ”
Ela destacou a folha do caderno, colocou em um envelope amarelado, o lacrou, jogou dentro da caixa do correio e com um suspiro profundo sorriu e logo correu para o trem que dava seu último apito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário